Caça à cabeça
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Caça à cabeça

Jun 06, 2024

Um detetive particular atormentado por alucinações é contratado para recuperar a cabeça mumificada de um monge roubada de uma catedral – mas por que alguém iria querer isso?

Amir acorda de um sonho com um piano de carne e osso e, quando tira o telefone debaixo do travesseiro, vê três chamadas perdidas. Bravetti nunca coloca nada em texto, nem mesmo em texto criptografado, mas eles não estão mais juntos, nem ligam bêbados, então deve ser um trabalho. Ele aperta o ícone de chamada, depois o ícone do alto-falante e sai da cama.

Ele pega uma pequena panela de metal do fogão e adiciona um pouco da torneira. Retorna e coloca no alto. Ele segura a jarra de café contra as costelas e usa a mão esquerda para abri-la, já que a direita está envolta em fibra de vidro verde-limão, depois se recompensa com um gole de codeína do frasquinho marrom que veio com o gesso.

Bravetti responde antes que a água comece a ferver. "Tive um bom descanso, não é?" ela pergunta, aquela voz fria e seca na qual você poderia armazenar produtos perecíveis. "Três vezes sangrentas eu liguei para você."

Amir coloca focafé barato em uma caneca branca. "Serra."

“Foi fácil, mas estou fora da cidade...” Ela interrompe, e Amir pensa que pode ouvir o barulho metálico e o rangido de um trem. “Então estou repassando as economias para você, companheiro. Você pode trabalhar?"

Amir observa o vapor saindo da panela, as primeiras bolhas hesitantes. Ele passa a unha no gesso waffle. “Vou precisar de duas mãos?”

“Você vai precisar de duas mãos?” ela ecoa. “Que tipo de pergunta é essa, Amir? Você perdeu um? Todo mundo está de pé e perdendo partes do corpo esta manhã?

Ele espera.

“Mas não”, diz Bravetti. “Isso você provavelmente poderia resolver com seu dedo mínimo. Você conhece a Catedral de São João? Aquele com os cruzados mumificados?

O pedacinho de água está finalmente fervendo. Ele despeja na caneca e mexe até que os grânulos cinzentos da focafé estejam completamente dissolvidos. “Sim”, ele diz. “Fui lá em uma viagem escolar quando criança.”

“Eu também. Todos deveriam fazer isso. Coisas muito fascinantes. Ela passa pela conversa abafada de outra pessoa. “De qualquer forma, eles foram roubados.”

“E não chamou a polícia?”

“Obviamente que não, se eles me ligaram.” Amir ouve uma porta de correr, que corta o ruído de fundo, e depois um farfalhar de tecido. Um gotejamento líquido. “Eles sabem quem fez isso, viu. Cams o pegou claro como o dia. Era o sobrinho do próprio diretor, então eles só querem o item recuperado, só isso. Sem cobre. Sem conversa.”

Amir cheira o focafé; cheira horrível, mas parte de sua dor de cabeça já está desaparecendo em antecipação à cafeína. “Qual é o item?”

“Uma cabeça mumificada”, diz Bravetti, parecendo quase alegre. “Uma maldita cabeça mumificada.”

Amir bebe um gole da caneca. "Você está mijando?" ele pergunta.

“De jeito nenhum”, diz Bravetti. “O sobrinho do diretor cortou a cabeça de um daqueles monges cruzados loucos, e você está recuperando-a antes que ele a venda no mercado negro, ou faça dela um cachimbo, ou algo assim.”

Como o focafe não pode ter um gosto pior, Amir coloca um pouco de codeína dentro e mexe bem. “Eu disse uma mijada”, diz ele. “Quero dizer agora. Enquanto falamos. Você está no trem, no banheiro, mijando?

"Não. Claro que não. Isso seria desrespeitoso.” A voz de Bravetti carrega um toque de aborrecimento genuíno pela primeira vez. “Você quer o emprego ou não?”

Amir olha ao redor de seu novo apartamento, uma caixa branca pré-fabricada sem mobília, exceto seu gelbed e uma pequena mesa frágil cheia de livros, um pouco de dinheiro amarrotado e uma arma. Ele olha para sua única caneca, que agora contém uma mistura de café falso e remédios hospitalares.

“Eu quero”, diz ele, sentando-se na beira da cama. Ele toma outro gole nocivo.

“Ótimo”, diz Bravetti. “Vou enviar ao diretor suas informações e avaliação.” Ela faz uma pausa. “Você está se sentindo melhor, certo? Chega de, ah, episódios?

“Muito”, diz Amir, apoiando o gesso no joelho. “Muito melhor, quero dizer.”